Santa Casa da Misericórdia de Vila Nova de Famalicão
Instituição
História

Provavelmente fundado por Dª Constança de Noronha, a partir de 1476 o Albergue dos Caminhantes, havendo alguém que também lhe tivesse chamado: o Hospício; o Hospital; ou a Roda.

 

Em 1869 foi fundada a Pia Associação das Filhas de Maria, tendo à sua frente três bondosas senhoras: Dª Bernardina Azevedo Brandão e as irmãs Maria do Patrocínio e Balbina Correia e Costa, que, em Novembro de 1870, abriram um hospital sob a invocação de S. João de Deus.

 

Este hospital, situado na Rua Direita, no edifício com o número cinco, era uma pequena casa do século XIX, e veio, rapidamente, a tornar-se insuficiente para o atendimento aos mais necessitados.

 

Eram duas camas e um punhado de muito amor, aquele começo posto ao serviço com calma e coração.

Nesse mesmo ano, em Dezembro, foi constituída uma Comissão Administrativa, tendo como presidente o Abade Domingos de Paula Pereira de Mesquita, oficialmente confirmada pelo Governador Civil de Braga em 28 de Janeiro de 1871.

 

Pensou-se então, num sustentáculo mais firme, surgindo a organização de um Compromisso (Estatuto), para o qual muito terá contribuído o Abade Domingos Mesquita com a colaboração do Dr. Nuno Caetano de Matos Ferrão e António José Ferreira Guimarães. Este Compromisso ficou pronto em 2 de Setembro de 1873. O alvará foi aprovado pelo Governador Civil de Braga, Visconde de Margaride, em 2 de Março de 1874.

 

Estava aberta a grande porta do futuro, permitindo realizar uma obra material grandiosa, que serviu de cúpula às intenções Santas e Caridosas de S. João de Deus e às obras de Misericórdia, ideário das Santas Casas da Misericórdia.

 

Em 15 de Março reúne a primeira Assembleia Eleitoral, na Capela da Lapa, na Presença da Comissão Administrativa, tendo sido, por lista e em urna, votada a primeira Mesa Regedora, composta pelos Irmãos:

 

Francisco Inácio Tinoco de Sousa – Provedor

 

Abade Domingos de Paula Pereira de Mesquita – Vice Provedor

 

António Luiz Machado Guimarães – Escrivão

 

E mais 6 Irmãos como vogais e ainda mais 3 suplentes

 

É esta plêiade heróica, tendo na frente um homem com rara envergadura de comando, persistência, de sentimentos cristãos e alma abnegada, que abriu as portas à Santa Casa da Misericórdia.

 

Nesta mesma reunião, logo se começou a pensar na construção de um hospital, sendo, entretanto e provisoriamente, instalado num prédio cedido por António da Costa Faria.

 

Em sessão de 10 de Maio, Tinoco de Sousa propôs, decididamente, a construção de um novo hospital.

 

Foram escolhidos, para a sua edificação, os terrenos junto á Capela da Lapa. A primeira pedra foi colocada, em 25 de Outubro, com grande imponência, na presença de muitos irmãos e autoridades.

 

Estava iniciada a construção do grandioso edifício que ficaria a marcar o expoente máximo de terras de Vila Nova.

 

Em 27 de Outubro de 1878, justamente 4 anos depois, é inaugurado, com pompa e circunstância, o Hospital de S. João de Deus (em 2010, instalações da Universidade Lusíada).

 

Pela sua grandiosidade, para aquela época, ficou bem patente o esforço abnegado, provando ainda que muito pode a energia de boas vontades, quando posta na linha condutora do bem-fazer humano, ao serviço do próximo.

 

Apenas mais duas curiosidades: Da trincheira da linha do Minho (aberta por essa ocasião) saíram mais de mil carros de pedra.

 

Foram muito e muitos os beneméritos, que ao longo dos tempos, tem prodigalizado várias obras para uma melhor ajuda aos necessitados.

 

Famalicão é um eixo rodoviário por excelência, o que facilitou muito o seu desenvolvimento. A dinamização posta pelos industriais, rapidamente se fez notar no seu crescimento, sobretudo a partir dos anos 40 com a Câmara presidida por Júlio de Araújo, conhecida, pela sua decidida vontade de progresso, por Câmara do “BOTA ABAIXO”.

 

O hospital não fugiu ao acelerar desta terra, tornando-se, a breve trecho, exíguo para continuar a prestar, com eficiência, os cuidados de saúde e o acolhimento dos indigentes.

 

Em 1955 decidiu-se construir um novo edifício. Em 1961 foi iniciada a construção de um novo hospital.

 

A muita perseverança, e o dinamismo do Provedor Amadeu Mesquita, excelentemente coadjuvado pelos seus pares, foram a mola real que impulsionou todos aqueles que se envolveram nesta realização.

 

Em 16 de Maio de 1964 foi solenemente inaugurado o novo Hospital (que ainda hoje, apesar de tantas vicissitudes continua bem expresso como “Hospital de S. João de Deus”). Tinha capacidade para 337 camas; ficou por concluir o quarto piso, o que veio a suceder alguns anos mais tarde (1972) tendo sido transferida a pediatria e a maternidade, deficientemente instaladas e a não corresponderem ás necessidades encontradas.

 

Em edifício anexo, ficou a funcionar o Asilo Domingos Monteiro, com capacidade para vinte camas, dando resposta ao acolhimento dos mais necessitados.

 

De salientar a acção hospitalar, procurando que satisfizesse as exigências de saúde, conseguindo assim que o nosso hospital (“Hospital de S. João de Deus”) fosse classificado como Distrital da Classe “A”, a mais elevada nessa ocasião.

 

Muito contribuiu, pela excelente administração que imprimiu, para um grande desenvolvimento que se estava a operar, a Comissão Administrativa presidida pelo Dr. José Mário Machado Ruivo e seguidamente o Provedor Eng.º Fernando Pimenta. Em Abril de 74 foi a administração do nosso Hospital retirada à Misericórdia para ser assumida pelo Estado, hoje CHMA (conservando, porém, embora que não apareça oficialmente, o mesmo nome de “Hospital de S. João de Deus”).

 

Com os acontecimentos do 25 de Abril de 1974 o nosso Hospital foi nacionalizado. Era Provedor o Sr. Eng.º Fernando Pimenta. Foram momentos muito difíceis os que se viveram nessa transição, sobretudo pela tentação de usurpação dos bens da Irmandade.

 

Estava, neste ano de 1974, a ocorrer o I centenário da fundação da Santa Casa. Apraz-nos registar que a Câmara Municipal, na sua reunião de 25 de Março, concedeu o mais alto galardão, a Medalha de Ouro, em homenagem a esta efeméride e que veio a ser entregue já depois do 25 de Abril.

 

Conscientes da necessidade de um melhor apoio á terceira idade, já em 1973 sendo Provedor o Eng.º Fernando Pimenta, foi encomendado um projecto para a construção de um lar, que pudesse acolher mais pessoas dele carenciadas. Projecto pioneiro e por isso arrojado para o tempo, veio a ser concretizado, já na Provedoria do Sr. José Mesquita de Oliveira, em 1980.

 

Eleita em 1981 uma nova Mesa Administrativa, assumiu a provedoria o Irmão Fernando Barroso, que colocou todo o seu entusiasmo e dedicação ao serviço desta nobre missão.

 

Um novo surto de crescimento e desenvolvimento aconteceu na Santa Casa. Cada vez mais a Misericórdia tinha um papel preponderante e importante na solidariedade em favor dos mais desprotegidos.

 

O Lar S. João de Deus, com a lotação completa, e com necessidade de um melhor desempenho na chefia da sua direcção, exigia um esforço suplementar no alojamento da Comunidade Religiosa que nos servia desde a fundação.

 

Daí que em 1983 se deu inicio á construção do Bloco Residencial Rainha D. Leonor, para aí ser instalada a residência da comunidade, tendo sido inaugurado em 1 de Julho de 1985.

 

Com a oferta pela Câmara Municipal, em 1981, do terreno e do projecto para a construção de uma creche e jardim-de-infância, começou a ser desenvolvida uma nova actividade, passando a estar também ao serviço das famílias acolhendo os seus filhos.

 

Iniciada a sua construção em Junho de 1982, com total prioridade, de tal sorte que a sua inauguração se verificou em 10 de Julho de 1983 com a presença dos senhores Director do Centro Regional de Segurança Social e Presidente da Câmara.

 

Sempre atento às necessidades que a sociedade em que vivemos carece, o Provedor Fernando Barroso interessou-se, vivamente, pela construção de um lar que pudesse receber, para além dos idosos válidos, aqueles que, no Outono da sua vida, dependendo de tudo e de todos, pudessem, com dignidade, conforto e muito carinho, ter um Lar para os receber.

 

Com a oferta pelo benemérito e ex-Provedor Jorge Pereira da Silva Reis dos terrenos em Gemunde, logo foi posta em marcha a construção daquele que viria a ser o Lar Jorge Reis.

 

Tarefa árdua, mas gratificante, Fernando Barroso nunca esmoreceu. Pelo contrário foi sempre perseverante e incansável nas suas atitudes, acabando por ver concretizada aquela que seria “a menina dos seus olhos” com a sua inauguração em 8 de Junho de 1991, por feliz coincidência dia do seu aniversário, e com a presença do Primeiro Ministro, Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva.

 

Foi com alguma tristeza que o vimos deixar a provedoria, mas também compreendemos o desgaste que ocasiona uma obra desta envergadura.

 

Conhecedora das grandes carências na área do acolhimento a idosos, a Mesa Administrativa eleita em 1993, da qual o Irmão Mário Mesquita foi seu Provedor, logo se empenhou no aproveitamento do rés-do-chão do Lar Jorge Reis, com a instalação de oito quartos, aumentando a sua capacidade em 22 camas.

 

Durante a comemoração do 120º aniversário, a 12 de Março de 1994, foi inaugurado este aumento com a presença de autoridades Civis e Religiosas.

 

Não tinha a nossa Irmandade uma sede social condigna e capaz de albergar as cerca de 40 molduras com tela a óleo, riquíssimas obras de arte, evocando muitos dos Beneméritos e Homens bons que serviram esta Santa Casa. Depois de grandes obras de recuperação e remodelação do imóvel oferecido pelo casal Faria Sampaio, ali foi instalada a sede social e os serviços administrativos, tendo-se verificado a sua inauguração em 29 de Outubro de 1994.

 

O nosso apoio às famílias não estava completo. Havia grande carência de um ATL (Actividade no tempo livre), dado os pais não terem lugar para o acompanhamento dos seus filhos após o período escolar. Preocupados com esta falta, e pretendendo dar resposta a esta carência, foi construído um edifício contíguo ao Jardim de Infância, instalado aí um polivalente e as salas necessárias para o funcionamento do ATL.

 

Concluídas as obras, a Mesa Administrativa entendeu dar o nome “Joaquim Pereira da Silva” (pai da benemérita que sustentou estas obras) ao ATL. Esta nova resposta social foi solenemente inaugurada em 30 de Junho de 1996, sendo Benzida por sua Exa. Rev.ª D. Eurico Dias Nogueira e com a presença dos Senhores Governador Civil, Presidente da Câmara, Dr. Agostinho Fernandes, Familiares e muitos convidados.

 

Muitas obras de beneficiação para uma melhor qualidade de vida que se pretende proporcionar aos nossos residentes, tem sido uma constante. De todas elas, queremos destacar a nova Capela do Lar S. João de Deus, não só pela sua dignidade, mas também pela possibilidade de acolher no seu interior um maior número de pessoas e ainda a sua rápida transformação em sala de actos.

 

No Lar Jorge Reis foi construída uma nova rampa de ligação do piso inferior com o superior, ficando assim todos os pisos com a acessibilidade garantida.

 

Com a saída da Comunidade Religiosa da nossa Instituição, vagou o imóvel que lhe servia de habitação, pelo que a Mesa Administrativa entendeu fazer uma adaptação transformando-o numa residencial para acolhimento de casais ou pessoas com algum poder económico.

 

É composto por quatro quartos individuais e quatro suítes, tem ainda um quarto preparado para receber um dependente. Dispõem de salas de convívio, leitura e visitas. Tem acompanhamento médico e de enfermagem.

 

Sentida a necessidade dos pais e aproveitando a casa de caseiro da Quinta da Pedreira, em Gemunde, Outiz, foram feitas obras e instalado um berçário e creche, sendo Provedor o Sr. Mário Jorge Guimarães Mesquita.

Por ser necessário o seu complemento foram feitas obras de adaptação nas salas do rés-do-chão para aí começar a funcionar o Jardim-de-infância, em Setembro de 2010, sendo Provedor o Dr. José Machado Nogueira. Ambas as respostas ficaram sob a designação de Nossa Senhora da Guia.

Mais recentemente, em todos os edifícios, foi instalado o sistema de vigilância e de combate contra incêndios e de rápida e fácil evacuação em caso de sinistro.

 

Aproveitando as capacidades existentes e as necessidades de poupança energética (nomeadamente o gás) foram instalados sistemas de captação da energia solar (painéis) quer no Lar Jorge Reis quer no Lar S. João de Deus, que entraram em funcionamento pleno em Agosto de 2010, sendo Provedor o já referido Dr. José Machado Nogueira.

 

É digno de registo e de realce a coragem, a determinação e a persistência daqueles que, abnegadamente e num gesto de total gratuitidade serviram ou servem a Santa Casa demonstrando assim as virtudes cristãs e o empenhamento no cumprimento das Obras de Misericórdia.

 

Foram e continuam a ser muito e muitos os beneméritos, que ao longo dos tempos, tem prodigalizado várias obras para uma melhor ajuda aos necessitados cuja existência não pode deixar de ser salientada e alimentada.